Uma grave epidemia de dengue assola o Brasil, alcançando proporções sem precedentes.
O aumento exponencial de casos está sobrecarregando os hospitais, desafiando sua capacidade de resposta.
As autoridades de saúde e o governo estão mobilizando esforços para conter a disseminação da doença.
Embora a dengue seja uma ocorrência comum nas regiões tropicais, o Brasil enfrenta uma situação alarmante. Com mais de 400 mil pessoas infectadas, o número atual é quatro vezes maior do que o registrado no mesmo período do ano anterior.
O vírus, transmitido pela picada do mosquito Aedes Aegypti, caracterizado por seu pequeno tamanho e listras brancas, provoca sintomas semelhantes aos da malária, incluindo febre alta, dor de cabeça, fadiga e vômitos, podendo, em casos graves, levar à morte.
O país já contabiliza cerca de sessenta óbitos confirmados relacionados à doença, enquanto aproximadamente 300 mortes adicionais estão sob investigação.
A partir do final de janeiro, a situação se agravou rapidamente, com mais da metade das cidades afetadas e vários estados declarando estado de emergência em saúde pública.
Em Brasília, a capital, o Exército precisou abrir um hospital de campanha para atender à demanda crescente, buscando aliviar a pressão sobre os serviços de saúde. As projeções das autoridades indicam a possibilidade de até cinco milhões de casos até o final do ano, em uma população de 203 milhões de habitantes. A epidemia também se estende à Guiana, aumentando a preocupação regional.
O Desafio da Instabilidade Climática
Esta explosão de casos deve-se em grande parte ao aquecimento global. No ano passado, o fenômeno El Niño trouxe secas e temperaturas muito superiores ao normal, seguidas de fortes chuvas: a equação ideal para a proliferação de mosquitos.
O carnaval ocorrido na semana passada, com suas extensas aglomerações, não contribuiu positivamente. Além disso, observa-se um relaxamento por parte da população em relação às medidas de precaução : muitos brasileiros estão deixando de cobrir adequadamente recipientes que possam acumular água ou descartar corretamente seus resíduos líquidos.
As autoridades estão convocando uma mobilização geral para lidar com a situação. O presidente Lula está determinado a evitar repetir a postura de seu antecessor, Jair Bolsonaro, que foi responsabilizado por grande parte das mortes relacionadas à Covid-19 devido à sua inação e suas visões contrárias às vacinas.
Nesta ocasião, foi estabelecida uma unidade de crise para coordenar os esforços. Anúncios de prevenção estão sendo veiculados em rádios e televisões. Agentes municipais, equipados com máscaras de gás e trajes protetores brancos, estão intensificando as operações de fumigação em residências.
🇬🇧 “Brazil breaks a record for deaths caused by ‘dengue’ in 2023 and the country could have 5 million cases this year.
— Jamile DeSouza-Davies (@JamileDavies) February 11, 2024
Lula's government has vaccines against dengue for 1.1% of the population.” pic.twitter.com/0NQiKcYPV5
Campanha de vacinação gratuita, uma inovação mundial
Porém, o destaque principal é o início de uma extensa campanha de vacinação gratuita, iniciada na sexta-feira, 9 de fevereiro. Isso coloca o Brasil como pioneiro mundial ao oferecer a vacina contra a dengue como parte integral de seu sistema público de saúde.
No entanto, a disponibilidade de doses da vacina Qdenga, desenvolvida pelo laboratório japonês Takeda, é insuficiente. Neste momento, a vacinação está restrita aos grupos mais vulneráveis, começando com a faixa etária de 10 a 11 anos e posteriormente se estendendo aos menores de 14 anos. Em um país acostumado a produzir três quartos de suas próprias vacinas, crescem a preocupação e a perplexidade diante do ritmo crescente da epidemia.
Combatendo a Dengue
Uma estratégia eficaz na prevenção da dengue é a eliminação da proliferação do mosquito Aedes Aegypti, interrompendo seus potenciais locais de reprodução. Isso inclui remover água armazenada em recipientes diversos, como vasos de plantas, reservatórios de água estagnada, pneus, garrafas plásticas, piscinas sem manutenção e até mesmo em pequenos recipientes, como tampas de garrafas.
Utilizar roupas que cubram a pele durante o dia, quando os mosquitos estão mais ativos, pode oferecer alguma proteção contra as picadas. Repelentes e inseticidas também são úteis, desde que utilizados de acordo com as instruções do fabricante. Mosquiteiros são especialmente recomendados para indivíduos que dormem durante o dia, como bebês, pessoas acamadas e trabalhadores noturnos.
Atualmente, apenas uma vacina contra a dengue está registrada na Anvisa e está disponível na rede privada. Essa vacina é administrada em três doses ao longo de um ano e deve ser aplicada somente em pessoas que já tiveram pelo menos uma infecção por dengue, conforme recomendações do fabricante, da OMS e da ANVISA.
É importante ressaltar que a prevenção da dengue depende da participação ativa e consciente de toda a comunidade. Manter a higiene dos locais e evitar o acúmulo de água parada são medidas fundamentais.
Aqui estão algumas práticas para evitar o acúmulo de água parada e, consequentemente, a proliferação do mosquito:
- Tampe sempre recipientes que possam acumular água e lave regularmente caixas d’água, poços, tambores e outros recipientes similares.
- Evite o acúmulo de água em pratos de vasos de plantas, colocando areia até a borda do pratinho.
- Trate plantas que possam acumular água com uma solução de água sanitária, regando-as pelo menos duas vezes por semana e removendo a água acumulada nas folhas.
- Não deixe objetos que possam acumular água ao ar livre, como tampinhas de garrafa, cascas de ovos, latas e embalagens plásticas, e guarde garrafas vazias de cabeça para baixo.
- Mantenha o vaso sanitário sempre fechado e dê descarga pelo menos uma vez por semana em banheiros pouco utilizados.
- Limpe regularmente a bandeja externa da geladeira e troque a água dos bebedouros de animais pelo menos uma vez por semana.
- Mantenha calhas limpas e coloque areia nos cacos de vidro nos muros para evitar acúmulo de água.
- Mantenha a piscina sempre tratada com cloro e limpe-a semanalmente, evitando cobri-la com lonas ou plásticos quando não estiver em uso.
- Mantenha o quintal limpo, recolhendo o lixo e detritos e mantendo as lixeiras tampadas.
Além disso, é importante permitir o acesso dos agentes de controle de zoonoses em residências e estabelecimentos comerciais para garantir ações eficazes de combate à dengue.