Embora tenha dado demonstrações de forte articulação política – no domingo de Páscoa, Temer reuniu suas equipes política e economia -, o governo sofreu outro duro revés na Câmara dos Deputado, horas após ter reunido 180 deputados e ensaiar um discurso excessivamente otimista em relação à viabilidade da Reforma da previdência.
O pedido de urgência da Reforma Trabalhista, que ao contrário da Reforma da Previdência, não possui fortes focos de pressão contrários, foi derrotado por 230 votos a favor contra 163. Seriam necessários 257 votos favoráveis. Faltaram 27.
O governo, com o apoio da maioria dos líderes, deve insistir na urgência em uma nova votação, mas fica evidenciada a insuficiência de votos para aprovar a reforma previdenciária mesmo com severas desidratações. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, puxou a responsabilidade da derrota para si na tentativa de aliviar o governo. Admitiu precipitação na sessão desta segunda que deliberou com apenas 394 deputados.
Derrota
Radiografia da votação do requerimento que rejeitou urgência na Reforma Trabalhista
O teto de votos da oposição na Câmara é de 100 deputados. Em uma conta simples verifica-se que 63 deputados governistas engrossaram o coro oposicionista. Na radiografia da votação, o governo perdeu mais votos com os ausentes (119 deputados). Estes se somaram aos 63 que migraram para oposição.
A oposição votou em bloco contra o governo. Entre os partidos aliados a taxa de fidelidade foi maior que na terceirização, mas segue sendo insuficiente para emendas constitucionais. Na votação da reforma trabalhista contabiliza-se contra o governo os votos “não” e as ausências. Tem sido uma tática recorrente aliados se esquivarem de votações impopulares. Abaixo o mapa de votos dos principais aliados do governo.
No PMDB a fidelidade foi de 62% (40 sim, 8 não e 16 ausências). No PSDB o apoio foi de 82% (39 sim, 2 não e 5 faltas. No PP (bloco com PTN, PTdoB e PHS) a fidelidade foi baixa em 52% (37 sim, 16 não e 18 ausências). O PR rachou e a fidelidade foi baixíssima em 39% (15 sim, 10 não e 14 ausências). No PSB o pior índice de fidelidade, apenas 34% (12 sim, 19 não e 4 ausências). No PSD a fidelidade foi de 62% (23 sim, 5 não e 9 ausências). No DEM um dos melhores índices de governismo em 79% (23 sim e 6 ausências)
No primeiro teste de fidelidade para aferir o tamanho real da bancada governista em temas mais sensíveis, 231 deputados aprovaram a terceirização ampla, geral e irrestrita. Agora, em pouco mais de três semanas e após sucessivos esforços do governo em amalgamar a base, o número (230) se repete como tragédia. Embora reversível, a derrota é emblemática, má sinalização e repete o patamar de votos governistas na Câmara.
A fisiologia não tem sido suficiente para assegurar tranquilidade. Embora aprovada, o teste da terceirização da mão de obra revelou a perda de controle do governo sobre mais de 124 deputados da base. Considerando-se apenas os partidos representados no ministério, o governo somaria 353 aliados. Votaram. O mesmo dado também fortalece o divórcio entre líderes e liderados e reduzida influência dos ministros sobre suas bancadas.
O instinto de sobrevivência altera a lógica política. Como as duas reformas são impopulares, os parlamentares optam por uma tentativa de reposicionamento de imagem em temas de fácil compreensão popular em busca da reeleição e abandonam o presidente que não agrega nenhuma expectativa de renovação de poder.
Dentro desse vetor eleitoral, com veículos alternativos (redes sociais) sendo utilizados para falar diretamente com o eleitor, a Lava Jato é outro o complicador que joga luz sobre a legitimidade do poderes Executivos e Legislativo para promover uma alteração desta magnitude.